Pular para o conteúdo principal

Crase parte 1 - “À partir” de hoje, vamos escrever essa meleca corretamente

“Oh, CRASE da morte, tu que és tão forte, que mata o gato, o cachorro e o papagaio. Quando vieres me humilhar, que seja rápida e fulminante.”

Não vou mentir para vocês: CRASE É FODA!!! Ao menos para quem não lê!!! Na verdade, quem tem o hábito da leitura não costuma passar perrengue quando o assunto é Língua Portuguesa. Acho que essa condição também vale para todos os outros assuntos da vida. Mas, enfim, se você não é um leitor inveterado, ao menos deixará de mostrar para todo mundo, no facebook, que você não tem a mínima ideia de quando usar a crase!   

Primeiro ponto: esqueça essa conversa de que, na dúvida, coloque crase. Quem foi o imbecil que inventou isso? É o mesmo que dizer: “Eu morro cortando os pulsos? Na dúvida, corte!!!” Que merda é essa!!!

Segundo ponto: Eu poderia oferecer a mesma explicação que você encontra em qualquer gramática – até na do Ataliba de Castilho, embora eu ainda não tenha encontrado porque sou muito burro para entendê-lo – que diz que a crase é a fusão do artigo “a” + “a” preposição. Ainda que correto, não faria diferença alguma àqueles que não sabem distinguir um artigo de uma preposição.   

Sendo assim, encontrei um exemplo perfeito em Ivo Korytowski que vai ilustrar essa fusão de forma simples e funcional. Analisemos a seguinte frase:
“Comprei a metralhadora para o menino.”
Se combinarmos a preposição “para” e o artigo “o”, logo, teremos “AO”, que é uma das várias contrações de palavras que temos na Língua Portuguesa. Por exemplo, EM + UMA = NUMA / EM + O = NO / EM + ESTE = NESTE, e por aí vai!!!
Feito isto, teremos a seguinte frase: “Comprei a metralhadora AO menino.”

Ao analisarmos a mesma sentença no feminino, percebemos que a contração “AO”, por motivos óbvios, não se encaixa na frase, visto que teríamos:
“Comprei a metralhadora AO menina.” (E a hora da verdade se aproxima!!!)
Para conseguirmos um conector válido para concordar a oração, devemos combinar a preposição PARA (A) + o artigo A. Logo, A + A = À!!!
Oiiiii, olha a crase aí, oooiiii, como diria o Sílvio Santos.    
Portanto, temos:
“Comprei a metralhadora À menina.”

De imediato, podemos concluir que:
- NÃO EXISTE CRASE ANTES DE PALAVRAS MASCULINAS;
- E SE SUBSTITUIRMOS O OBJETO FEMININO POR UM MASCULINO E O CONECTOR FOR UM SINGELO “AO”, FATALMENTE HAVERÁ CRASE.
Ex: Fomos à praia (ao sítio) no feriado.
Podemos ir à festa (ao cinema) hoje?
Vá à (para o = ao inferno) merda, seu bosta!

Também incluo, hoje, até para justificar o título deste post, uma terceira regra vital ao entendimento da CRASE:
- NÃO EXISTE CRASE ANTES DE VERBOS.
Portanto, e pelo amor de Deus, caros lojistas, comerciantes e para quem interessar possa, lembrem-se:
- A PARTIR DE HOJE, EU OS AMALDIÇOO SE VOCÊS USAREM CRASE EM “A PARTIR”, “A COMBINAR”, “A PERDER”, “A NEGOCIAR” e por aí vai!!!  

O resto, como tudo no Português, é regras. Mas deixemos um pouco para os próximos posts para não irritar e nem desanimar ninguém. Amanhã tem mais, Little Pumpers!!! E crianças, não usem drogas porque elas levam À morte (ao caixão), com CRASE!!!         

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

“Menas ingnorância, é ansim que se fala!”

Determinadas palavras jamais deveriam ser proferidas. E não é porque são descartáveis ou inúteis. Nada disso. O problema é que quando são subvertidas causam vergonha alheia. Sabe quando o cidadão lança na roda aquele “seje” que chega aos ouvidos como um tapa do Hulk??? É disso que eu estou falando!!! Com o utópico sonho de tentar evitar que cada vez mais pessoas cometam atrocidades gramaticais com alto grau de complexidade, elaborei o Top 10 das palavras – versão Mobral – que jamais deveriam sair da boca de alguém. MENAS: o advérbio de intensidade "menos" é invariável, sempre; SEJE: o verbo SER, no presente do subjuntivo e no imperativo, será sempre "seja". Isso também se aplica a "esteja", do verbo ESTAR; ADEVOGADO: por que será que ninguém fala "Adeministração"??? Mistério!!! É advogado, cidadão!!!; INGNORANTE: quem fala assim é um "indiota", "istúpido" e fugiu da "iscola", segundo o dicionário da Carla

“Mim Tarzan, você Jane!”

Se tem uma coisa que me incomoda bastante é o tal do “MIM pronome pessoal reto(!)”. Todo mundo, pelo menos uma vez na vida, já ouviu um sonoro “pra mim fazer”, “pra mim comer”, “pra mim comprar”, “pra mim se matar”, etc. O detalhe, caros amigos, é que MIM não é pronome pessoal reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas) e muito menos conjuga verbo. Mim não come, mim não compra, mim não mata! Somente o “EU” é capaz de expressar ações na primeira pessoa do singular. Outra coisa que me chama a atenção é que as pessoas cometem esse erro grotesco sempre no meio e fim das orações, nunca no início. Ninguém diz “Mim vai almoçar e você fica aqui”, mas todo mundo diz “Você fica aqui pra mim almoçar”. Deve haver alguma explicação para isso na Linguística, contudo, não é hora para análises de discurso.    Nos interessa saber que, antes de verbos, ao invés de MIM, o correto é usar o pronome “EU”. Ex: Vou fazer bucho para EU comer | Duvido que EU compre essa porcaria | É mais provável q

“Por que o porquê do porque é diferente de por quê?”

O assunto do post de hoje chegou-me por meio do camaradinha Bruno Damião, de Mogi Guaçu (SP). Puto com as pegadinhas do universo gramatical, ele questiona o uso dos “porques” e a funcionalidade de cada um. Calma, paquito!!! É bem mais simples do que você pensa. Let’s go, little grasshopper!!! Há quatro tipos de “porque” na Língua Portuguesa, todos muito simples e de fácil memorização. “POR QUE” (preposição + pronome interrogativo) é utilizado sempre em PERGUNTAS (exceto quando encerra a frase, conforme aludido abaixo) e equivale a POR QUAL RAZÃO / POR QUAL MOTIVO. Molezinha!!! Ex: “Por que” que você é escroto desse jeito? Há casos que “POR QUE” assume a sequência preposição + pronome relativo e, por isso, passa a ser equivalente aos pronomes PELO QUAL e flexões (pela qual, pelos quais e pelas quais).   Ex: Ser escroto é a Filosofia por que você respira. Já “POR QUÊ” é usado sempre ao término das frases, imediatamente antes de um ponto (final, interrogação, exclamação